Não concebo que a solidariedade com os antigos trabalhadores da Fábrica da Loiça de Sacavém só tivesse validade em ano de eleições autárquicas e na perspectiva de um "negócio-milionário-mistério".
Quanto ao negócio de milhões - que daria lucro também de milhões, com os quais se pagariam indemnizações aos antigos trabalhadores e ainda... se faria uma generosa distribuição pelas colectividades de Sacavém e ainda... se atribuiria uma fatia maior à Cooperativa "A Sacavenense" porque tinha tido a ideia e ainda... sobrariam não sei quantos milhares para grandes projectos culturais em benefício de toda a população e ainda... etc. e tal, - todos sabemos que nunca foram conhecidos os "financiadores" desse fabuloso "negócio da china".
Apenas se sabe que havia quem quisesse por força que a Câmara Municipal de Loures fosse avalista de um "financiamento secreto" e de negócio indeterminado. O negócio era tão esclarecido, que tendo o Municipio solicitado a sua explicitação para que a questão fosse adequadamente estudada, ainda hoje está à espera que lho expliquem. De resto, mesmo aqueles de nós que participaram em várias reuniões, em que tanto se falou do negócio, nunca tivemos o privilégio de lhe conhecer os termos, de saber quem eram os misteriosos financiadores.
As autarquias e em especial a Câmara Municipal de Loures nunca tinha sido insensível - há anos que andava a tomar medidas efectivas para preservar o património com valor e para assegurar que ali não será cometido mais um crime urbanístico, tendo garantido a aquisição de uma parte importante do espólio do Museu da empresa e estando a construir aquele que será o Museu da Cerâmica e do Trabalho, preservando assim a memória colectiva, não através de barracões decrépitos, mas de instalações modernas e dignas que honrem essa memória, os trabalhadores e o produto do seu trabalho - e não foi insensível às dividas aos antigos trabalhadores da empresa - tendo prescindido formalmente dos seus créditos em favor dos trabalhadores - e não foi insensível à constituição da Associação dos Amigos da Fábrica da Loiça - a quem recebeu por várias vezes, com quem se comprometeu a estudar a viabilidade de um projecto credível, susceptível de ser apoiado pelo Município.
Por outro lado e até hoje, os Senhores Ministros da Economia e da Solidariedade Social, a quem foram pedidas audiências pelo Presidente da Assembleia de Freguesia, não se dignaram receber ou sequer responder a este, nem à Associação.
Curiosamente (ou talvez não), com o esfumar do "negócio dos milhões", a solidariedade para com os antigos trabalhadores da Fábrica da Loiça desapareceu num ápice. Poderia pensar-se que seria mera discrição para que o assunto não se cruzasse com as eleições autárquicas mas, não só foi ostensivamente cruzado, como foi instrumentalizado e usado como arma de arremesso eleitoral - tentando responsabilizar o Presidente da Câmara e o Presidente da Junta pelo falhanço negócio-mistério-milionário-benfeitor. Contudo, três meses após as eleições não regressou a "desinteressada" solidariedade com os antigos trabalhadores da Loiça. Porquê ? Era solidariedade com contrato a prazo e por isso caducou ?
Numa determinada reunião da Associação, por acaso bastante participada por dirigentes das colectividades de Sacavém, assinalei que independentemente de se conseguir materializar o "tal negócio", os principios da Associação eram correctos e justos e por isso esta deveria prosseguir a sua missão solidária, até obter resultados. Tal perspectiva não foi contrariada por nenhum dos presentes.
Proponho assim que nos mantenhamos fieis aos principios fundadores da Associação, eliminando dos Estatutos as referências ou objectivos correlacionados com actividades imobiliárias e que seja alterada a denominação da Associação para "Associação dos Amigos dos Trabalhadores da Fábrica da Loiça de Sacavém" e que tudo façamos para que os antigos trabalhadores tenham, de facto, e no mais breve curto espaço de tempo, a devida reposição dos seus créditos.
Claro que o desafio é lançado às colectividades de Sacavém, aos orgãos autárquicos, aos partidos políticos e aos antigos trabalhadores da Fábrica da Loiça, mas muito especialmente à Direcção da Cooperativa "A Sacavenense", cuja instituição tem uma divída de existência para com os trabalhadores da Loiça e deve por isso dinamizar o processo.
Aqui fica, desde já, a minha disponibilidade para colaborar
15 março 1998
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário