Bem sabemos todos que a nossa vida individual e colectiva está repleta de figuras, figurões e figurinhas. Descodifiquemos: para mim, as figuras são aqueles que se distinguem verdadeiramente, pela sua capacidade humana, pela sua dedicação a causas, pela sua luta em prol de muitos, pela excepcionalidade da sua inteligência, pela notabilidade das suas realizações efectivas. Os figurões, serão aqueles que gostam de ser conhecidos por fazer aquilo que, afinal, nunca fizeram, por serem aquilo que, afinal, nunca foram. As figurinhas, são todos aqueles casos, que por aí pululam, não fazendo nada que valha a pena e que nem sequer fingem fazer. Existem e é o máximo de que são capazes.
Vem este intróito a propósito de mais uma perplexidade que assola, a tam nobre e decadente Cidade de Sacavém. Nos dias que correm são muitas as perplexidades, mas esta é de bradar aos céus, aos mares, aos deuses e quem sabe se a mais alguma parte em especial.
Sacavém – provavelmente sem nenhum mérito e só com muita sorte – tem o privilégio de contar entre os seus naturais uma FIGURA maior de nível mundial. Eduardo Gageiro é essa FIGURA. Um dos mais reputados e premiados fotógrafos de todo o mundo, que embora leve uma vida a correr o globo para fotografar e ser agraciado, nunca deixou de ser profundamente sacavenense.
Algumas das suas melhores imagens, alguns dos seus momentos mágicos, foram captados na sua terra, na nossa terra e, ainda assim, para absoluto espanto meu, nem todos os prémios, todos os reconhecimentos, todas as homenagens que tem recebido por esse mundo fora, conseguem que os figurões e as figurinhas de Sacavém sejam capazes de pôr em marcha a mais que justificada e merecida homenagem da Cidade ao seu conterrâneo.
A CDU propôs a homenagem na Assembleia de Freguesia. Depois, uns cavalgaram a ideia, outros teceram loas. Até foi nomeado um grupo de trabalho. Fizeram-se reuniões, estudos, análises, considerações, reflexões, apreciações, consultas, ponderações, relatórios, ofícios, visitas, tiraram-se medidas e puseram-se pontos nos iis. Tudo debalde.
Os figurões e as figurinhas do poder local da terra, não são capazes de sair de onde estavam, antes da proposta de homenagem ser apresentada. Ou eu me engano redondamente e, afinal, está em marcha uma coisa verdadeiramente nunca vista que fará roer de inveja Hollywood ou, tenha Eduardo Gageiro o mérito que tiver, nunca verá a sua terra retribuir-lhe o apreço e reconhecimento que lhe prometeram.
Será uma inacreditável indignidade e uma revoltante afronta, mas poderemos na verdade esperar muito mais dos nossos figurões e das nossas figurinhas ? Em qualquer outro sítio, Eduardo Gageiro, seria um símbolo reclamado, apoiado e até venerado. Aqui, parece que nem respeitado!
Numa Cidade a Sério, Eduardo Gageiro, estaria na rua, as suas obras seriam expostas permanentemente, valorizando a terra e as gentes. E quantas formas haveriam para – em prol da comunidade e da Cidade – aproveitar o génio deste seu filho especial ?!...
Se de mais não somos capazes, se mais imaginação não temos para deixarmos de ser sugados por esta espiral de decadência urbana, social e cultural que atinge tão profundamente a Cidade, arrisque-se, pelo menos, uma “colagem” às nossas FIGURAS de referência, para exaltar o orgulho sacavenense, para dar ânimo, coragem e exemplo a uma terra descrente e deprimida.
Quem sabe se, uma vez transformada uma homenagem falhada, numa homenagem digna, séria e sentida, não despontará um querer e poder colectivo que nos leve e à Cidade a algum lado ?!...
Seja como for, o que não pode passar em claro, para já, é que os nossos autarcas figurinhas são incapazes de fazer aquilo que era seu dever e matéria sobre a qual tomaram decisões há muito tempo: HOMENAGEAR DIGNAMENTE A FIGURA EDUARDO GAGEIRO.